Resenha: O Colecionador (filme)
Este é considerado o último grande filme do diretor norte-americano William Wyler que também realizou a melhor versão de O Morro dos Ventos Uivantes para o cinema. É adaptação para o cinema do livro de John Folwes que, de forma imediata tornou-se um best-seller. Apesar do filme e o romance manterem uma relação de proximidade é possível notar que existem pequenas diferenças entre eles.
O Colecionador foi lançado em 1965, no auge da revolução sexual e das mudanças de costumes na Inglaterra. É um thriller de suspense, que descartou elementos do romance que poderiam torná-lo aborrecido, tais como discussão sobre o conceito de beleza da arte e o conflito entre classes sociais.
O filme de Wyler consiste, acima de tudo, em um elaborado exercício de suspense, que se sustenta por quase duas horas graças as excelentes intepretações de Terence Stamp e Samanta Eggar, que ganharam merecidamente os prêmios de melhor ator e melhor atriz no festival de Cannes daquele ano) e pelo excelente trabalho de direção do diretor, que cria um espaço claustrofóbico e até mesmo assustador, no qual, inicialmente, se destaca uma iluminação em tom vermelho - provavelmente, inspirado nas produções de terror de Mario Bava.
No filme os personagens centrais são descritos de forma diferente do livro. Frederic, o sequestrador (interpretado de forma brilhante por Terence Stamp, mais conhecido como a drag queen de Priscilla: A Rainha do Deserto) é bem mais sinistro, misterioso e, em certo aspecto, até mesmo charmoso, enquanto sua vitima, a jovem Miranda é menos sexualizada e mais frágil.
Embora, o roteiro tome algumas liberdades com o texto de Folwes, os principais eventos da trama são mantidos. O Colecionador começa quando um tímido funcionário público (Terence Stamp), após ganhar sozinho uma fortuna na loteria esportiva decide sequestrar uma moça (Samantha Eggar) por quem é secretamente apaixona e mantê-la prisioneira em uma casa isolada até que ela se apaixone por ele.
Vale destacar na parte inicial de O Colecionador a sequência em que Frederic persegue Miranda pelas ruas da cidade de Londres. Filmada à distância pelo diretor, essa sequencia cria uma constante atmosfera de tensão e suspense.
Wyller é um diretor que sabe muito bem extrair emoções dos atores e também explorar sutis mudanças de expressão por meio de close ups fechados que sugerem nuances no comportamento de ambos. Apesar do filme somente se concentrar em dois personagens, ele nunca é cansativo e desinteressante. O diretor também consegue criar cenas de tensão em situações aparentemente banais ou gestos sutis. O olhar de Frederic pode ocultar a intenção de provocar algo terrível, ou sua fala mansa quase “robótica” que deixa Miranda perturbada é capaz de provocar arrepios no espectador.
Visto hoje, O Colecionador parece ser um filme que, ao contrário de muitos produzidos na década de sessenta, melhorou com o tempo. Privilegiando, e certa medida ampliando o aspecto gótico da obra original de Folwes, – destacado no cenário da prisão subterrânea de Miranda, que remonta a uma masmorra medieval, o qual é mostrado em detalhes, o filme consegue prender a atenção do começo ao fim.
O Colecionador faz uma síntese das melhores passagens do romance e reproduz na íntegra seu final inesperado e perturbador, que demonstra o desenvolvimento de uma mentalidade insana e perigosa. Em sua obsessão pela mulher amada a ponto de aprisiona-la totalmente, o sequestrador de O Colecionador em alguns aspectos antecipa a assustadora figura do psicopata que aprisiona suas vítimas e as trata como se fossem objetos que podem ser descartados e que, posteriormente, é retratada de forma assustadora em filmes como Seven – Os Sete Crimes Capitais e O Silêncio dos Inocentes.
O Colecionador mantém seu impacto e provoca inquietação e, até um certo temor quando pensamos que possam existir pessoas como seu protagonista que, por de trás de uma aparência aparentemente calma e tímida, esconde um lado terrível e doentio que pode se manifestar a qualquer momento. Sem dúvida, trata-se de uma obra-prima da sétima arte, um grande clássico do gênero suspense que vale a pena ser visto e descoberto por uma nova geração de espectadores.
Obs.: O filme foi lançado pela distribuidora Versátil que tem se especializado em recuperar clássicos. Sua imagem tem ótima qualidade de imagens, mas, infelizmente, O Colecionadoir tem somente como extra o trailer de cinema.
Cotação: ***** (excelente)