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Livro do mês: A Zona Morta

Sinopse: Após cinco em estado de coma, John Smith descobre que uma área de seu cérebro ficou danificada. Além disso, ele começa a manifestar o poder de prever acontecimentos do passado e do futuro, o que provoca uma drástica mudança em sua vida e também é capaz de revelar que algo horrível irá acontecer e provocar uma tragédia de proporções inimagináveis e assustadoras.



Autor: Stephen King

Tradução: Mario Molina

Editora Objetiva

Número de páginas: 492

Cotação: ***** (excelente)


Minha opinião: Quem acompanha meus comentários, sabe que sou grande fã de Stephen King. Para mim King é o CARA da literatura norte-americana! Devo confessor que não tenho muita paciência com autores americanos da atualidade. Eu tentei ler Pastoral Americana, de Phillip Roth que é idolatrado pela crítica literária dos Estados Unidos, - eu não entendo muito bem isso, uma vez que ele somente recicla personagens e enredos em seus romances. Sorry! Não é minha praia. Infelizmente, na época atual, King ainda não foi reconhecido pelo que é: um grande contador de histórias, muitas delas surpreendentes, envolventes e assustadoras. Infelizmente, grande parte dos críticos de literatura somente conseguem enxergar seus textos na superfície. Além dos artifícios habilmente usados por King- não é por acaso que ele é considerado um mestre do terror/ horror-, para criar cenas de arrepiar, as obras dele vão muito além dos sustos fáceis.

Eu concordo com Neil Gaiman sobre a escrita de King. Se você quiser saber como era América nos anos cinquenta aos anos oitenta, basta ler qualquer livro escrito de King. Como poucos autores, ele é capaz de radiografar a sociedade americana em vários aspectos. Seus livros, independente da qualidade e do gênero, sempre descrevem de forma realista a América em diferentes épocas – sim, críticos literários! King é um autor que consegue criar perfeitamente a chamada mimese realista-, o modo de vida dos americanos, e, principalmente as mudanças sociais, políticas e culturais dos Estados Unidos ao longo do tempo. A Zona Morta é uma espécie de caledoscópio da América dos anos setenta. Está tudo no livro: a guerra do Vietnã e suas nefastas consequências entre os mais jovens; o fanatismo religioso, impulsionado por seitas místicas e apocalíticas; a liberação sexual; o serial killer misterioso, que se esconde sob a máscara de homem gentil que poderia ser seu vizinho e espalha o medo e o terror entre os habitantes de uma pequena cidade e, principalmente o “circo” político dominado por políticos escroques e ambiciosos. Além disso, nessa obra, King trata de um tema sobrenatural explorado em outros de seus livros: a paranormalidade. Contudo, o leitor não deve esperar sequencias “sanguinolentas” como aquelas descritas em Carrrie: a estranha.

Desta vez, o autor prefere trata esse tema investindo maciçamente na criação do que chamo de “uma angustiante atmosfera gótica sobrenatural de mistério/suspense”. Digo “gótica”, porque King sabe criar como poucos – talvez, assim como Edgar Allan Poe, que é apontado como uma permanência influência em seus textos-, um ambiente perturbador, de contornos sobrenaturais, que causa sensações de terror e até mesmo estranhamento no leitor. Além disso, em vez de cria-lo a partir de aparições de fantasmas, vampiros e outras criaturas repulsivas, - que aparecem de forma destacada em outras obras do autor-, em A Zona Morta, King demonstra que os horrores e terrores que têm suas origens na psique humana, e, por isso são muito mais assustadores.

A trama começa a ser desenvolvida partir do momento em que somos apresentados ao personagem principal: John Smith. Ele é um modesto professor da escola secundária, tímido e um pouco desajeitado, que durante a infância sofreu um acidente que pode ter lhe deixado graves sequelas em seu cérebro. Depois de ganhar uma boa quantidade de dinheiro, prevendo de forma inexplicável o resultado de uma roleta, Smith sofre uma drástica mudança em sua vida. Após ficar cinco anos em estado de coma vegetativo, assim que acorda Smith descobre que adquiriu a capacidade de conhecer eventos que acontecem no passado e no futuro. Gradativamente, ele se dá conta que essa dádiva é na verdade uma espécie de maldição, que possibilita a Smith evitar acidentes e incêndios, mas, principalmente descobrir terríveis acontecimentos futuros, que até mesmo podem estar relacionados com uma catástrofe que dizimará a vida de milhões de pessoas. A partir deste ponto, eu não posso mais revelar mais nada sobre a trama do livro.

​Vale ressaltar que, em A Zona Morta, o autor com grande habilidade consegue criar cenas de grande impacto todas as vezes que Smith sem qualquer intenção manifesta seu estranho poder. Ele torna-se “monstruoso” aos olhos daqueles que o veem fazendo suas estranhas previsões, uma vez que Smith sofre uma mudança física aparente, - ressaltada pela mudança de tonalidade de seus olhos-, e até mesmo muda o tom de voz. Além disso, quando tem essas visões que vão se tornando cada mais intensas e perturbadoras, ele também tem a impressão que por meio delas consegue “rasgar” as fronteiras da realidade e do tempo. Ou seja, em determinado momento, Smith não consegue saber se o que está vendo é real ou pode ser fruto de sua imaginação. Dessa forma, assim como em outras obras inseridas na tradição gótica, a exemplo de O Iluminado, neste romance o autor explora amplamente um de seus temas recorrente em seus principais textos: a loucura, que também aparece de forma marcante na personalidade transtornada de Greg Stillson, um político corrupto e chantagista, que revela ser uma espécie de duplo ameaçador e antagônico de Smith. King também faz de A Zona Morta um eficiente e até mesmo angustiante “suspense dramático”. Próximo ao seu desfecho, Smith involuntariamente é envolvido em corrida contra o tempo, para evitar que algo terrível aconteça. Novamente, no romance chama a atenção os personagens bem construídos, em sua complexidade psicológica, destacando-se dentre eles, a meiga e compreensiva Sarah, o grande amor de Smith. A maioria deles retratados como “gente como a gente”, ou seja, seres humanos normais, que sofrem decepções amorosas, problemas financeiros ou com a perda de entes queridos. John Smith se insere entre as marcantes criações do autor devido a forma como é descrito. Sua humanidade e grande fragilidade, até mesmo física, faz com que o leitor se compadeça dele a ponto que consiga sentir seu enorme sofrimento e eterna angústia, uma vez que ele está fadado a cumprir um tipo de missão perigosa capaz de colocar sua vida em risco.

Com ritmo envolvente, revelações inesperadas e um final bastante surpreendente, que pode deixar o leitor de queixo caído, A Zona Morta é um dos melhores romances de King. Neste, o autor consegue radiografar com poucos autores os aspectos positivos e negativos da América nos anos setenta. Uma época, cheia de drásticas mudanças no contexto social e no cenário político retratado com sarcasmo e senso crítico nessa “obra de terror” escrita por um grande mestre no gênero, que como poucos é capaz de nos horrorizar e também nos emocionar com suas assustadoras histórias.

Obs.: Infelizmente, o livro está esgotado na editora, mas você pode encontra-lo em sebos, tais como Estante Virtual. Em 1982 foi feita uma versão cinematográfica de A Zona Morta, que no Brasil foi lançada em dvd pela Spectra com o título de A Hora da Zona Morta. Este filme (muito bom, vale a pena ser visto) é dirigido por David Cronnenberg, – considerado um grande diretor do cinema fantástico-, e quem interpreta muito bem o papel do atormentado John Smith é Christopher Walken, conhecido por filmes como Pulp Fiction – Tempo de Violência, de Quentin Tarantino.





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